A Human Rights Watch (HRW) acusou o governo dos Estados Unidos de manipulação política em seu relatório anual sobre violações de direitos humanos, destacando omissões significativas e distorção de dados em relação a aliados e adversários. O documento, que orienta as políticas externas americanas desde 1974, teria sido alterado sob a administração Trump para retratar de forma mais favorável países aliados e criticar adversários, como o Brasil e a África do Sul.
Segundo a HRW, o relatório de 2024 negligencia violações graves em nações amigas aos EUA como El Salvador, Hungria e Israel. Por outro lado, aponta um agravamento na situação dos direitos humanos no Brasil e na África do Sul, países que têm enfrentado críticas por parte do governo americano. Sarah Yager, diretora da HRW em Washington, descreveu o relatório como um “exercício de encobrimento e enganação”.
No Brasil, o relatório americano denuncia uma suposta deterioração na liberdade de expressão, citando investigações do STF contra grupos na internet. Pedro Kelson, do Programa de Democracia da Washington Brazil Office, critica que a descrição feita pelos EUA busca desacreditar as ações judiciais brasileiras, usando informações que não representam a realidade. Ademais, a Procuradoria-Geral da República brasileira já havia denunciado tentativas de interferência nas eleições de 2022 por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo planos para detenção e assassinato de autoridades.
Em Israel, o relatório americano é acusado de omitir ações como deslocamentos forçados de palestinos, uso da fome como arma de guerra e privação de recursos essenciais à população de Gaza. Da mesma forma, em El Salvador, onde o presidente Nayib Bukele adota políticas rigorosas, o Departamento de Estado dos EUA alega não haver “relatos confiáveis de violações significativas de direitos humanos”.
Na Hungria, a HRW aponta que o governo húngaro tem trabalhado para enfraquecer instituições democráticas e o estado de direito, com restrições severas à sociedade civil, à mídia independente e abusos contra pessoas LGBT e migrantes, temas que foram supostamente ignorados pelo relatório americano.
Sobre a África do Sul, o relatório do Departamento de Estado criticou a nova lei de terras que permite a expropriação sem compensação, interpretando-a como um passo preocupante em direção à expropriação de terras de africâneres e abusos contra minorias. No entanto, o governo sul-africano defende a medida como um esforço para corrigir as desigualdades herdadas do apartheid.
A Human Rights Watch conclui que o relatório anual dos EUA sobre direitos humanos não apenas falhou em manter uma representação fidedigna e consistente das condições globais de direitos humanos, mas também serviu como instrumento político para favorecer interesses específicos da política externa norte-americana.
ONG denuncia manipulação em relatório dos EUA sobre direitos humanos
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