As mudanças climáticas estão acentuando as desigualdades habitacionais na cidade de São Paulo, com a crise se manifestando notadamente através do aumento das temperaturas. Um estudo realizado pelo Centro de Estudos da Favela (Cefavela) da Universidade Federal do ABC (UFABC) destaca essa realidade, apontando que as regiões mais carentes sofrem mais intensamente os efeitos do calor extremo.
No verão entre o final de 2024 e o início de 2025, a favela de Paraisópolis enfrentou temperaturas de superfície alarmantes, chegando a 45°C. Em contrapartida, no bairro de Morumbi, uma área de padrão econômico elevado situada nas proximidades, as temperaturas se mantiveram em médias mais brandas, em torno de 30°C. Estes dados foram obtidos através do estudo de 19 imagens termais capturadas por satélites de observação terrestre, oferecendo um panorama da severidade do impacto climático em diferentes regiões.
Victor Fernandez Nascimento, pesquisador do Cefavela, ressalta que temperaturas como 30°C já são suficientes para aumentar significativamente os riscos à saúde, como por exemplo, infartos, especialmente em populações vulneráveis como idosos e crianças. Ele alerta que condições extremas, agravadas por fatores sociais, são verdadeiros “assassinos silenciosos”, sendo responsáveis por mais mortes anualmente comparadas a desastres naturais como deslizamentos de terra.
O estudo também aponta que além das disparidades socioeconômicas, a configuração física dos bairros influencia diretamente nas variações térmicas. Áreas densamente povoadas, como Heliópolis, também mostraram registros elevados, ultrapassando 44°C nos dias de pico de calor.
Para mitigar os efeitos dessas altas temperaturas, é vital uma combinação de ações que envolvem desde o aprimoramento do plano diretor da cidade até a implementação de jardins de chuva, melhorias na drenagem urbana, e incentivo à arborização. Especificamente em áreas como favelas, onde há grande adensamento construtivo, seria benéfico fomentar a criação de jardins comunitários e hortas urbanas, além de aprimorar sistemas de ventilação para aliviar o desconforto térmico nas residências.
O estudo do Cefavela traz à luz a importância da conscientização sobre como o planejamento urbano pode tanto contribuir quanto mitigar os fenômenos de calor extremo, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes para enfrentar essa crescente ameaça.
Paraisópolis registra 15°C a mais do que Morumbi durante o verão em SP
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