Balsas no centro das tensões entre desenvolvimento e sustentabilidade
No extremo sul do Maranhão, o município de Balsas se transforma e desafia a harmonia entre crescimento econômico e preservação ambiental. Nos últimos 25 anos, tornou-se epicentro da fronteira agropecuária brasileira, trazendo prosperidade e, ao mesmo tempo, intensificando o desmatamento regional, crucial para o Cerrado. Este cenário coloca em xeque a sustentabilidade da região, afetando diretamente a segurança hídrica do país.
Conformado por uma área urbana que concentra grandes empresas do mercado global de alimentos, como a holandesa Bunge, o cenário em Balsas é de stark contraste com as comunidades de moradias humildes que abrigam a maior parte dos trabalhadores locais. Estes expressam frequentemente preocupações com o custo crescente de vida, especialmente com aluguéis, que pesam no orçamento doméstico.
A pesquisa e investigação no local por parte da Agência Brasil revelou dados alarmantes sobre o impacto ambiental na região. De acordo com o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD 2024) do MapBiomas, Balsas figurou como o município com o segundo maior índice de desmatamento no país nos dois últimos anos. A abertura de terras para a produção de grãos e pastagens contribui significativamente para este quadro.
Além disso, a reportagem investigativa destacou que o Maranhão liderou a supressão de vegetação nativa no Brasil, representando 17,6% do total desmatado em 2024. Estes dados são corroborados pelos números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que reforçam a crescente eliminação de cobertura vegetal no estado.
No que diz respeito à economia, o avanço do agronegócio proporcionou significativo desenvolvimento local, com Balsas se tornando o terceiro maior PIB do Maranhão. Recentemente, o município celebrou a inauguração da maior biorrefinaria de etanol de milho da América Latina, promovida pela Inpasa, capaz de processar milhões de toneladas de milho e sorgo anualmente.
Contudo, a expansão agropecuária trouxe desafios substanciais, especialmente para a sustentabilidade hídrica. As nascentes do Rio Parnaíba, essenciais para o abastecimento da região Nordeste, encontram-se ameaçadas pelo aumento do desmatamento e pela pressão agrícola. Esta situação é agravada pelo próprio curso d’água do rio Balsas, que sofreu uma redução considerável na sua vazão ao longo dos anos, devido ao avanço das fronteiras agrícolas e às mudanças climáticas.
Dada a complexidade dos impactos gerados pelo agronegócio, medidas de mitigação e ações sustentáveis são urgentemente necessárias para reconciliar o desenvolvimento econômico com a preservação dos recursos naturais essenciais da região. O equilíbrio entre estes dois aspectos é crucial para garantir um futuro sustentável para Balsas e para o ecossistema do Cerrado como um todo.
Fernando Frazão/ Agência Brasil
Fronteira Cerrado: expansão do agro no coração hídrico do Brasil
Meio Ambiente

