No Rio de Janeiro, a 3ª edição do Congresso Internacional de Estudos Afrodiaspóricos teve início com a marcante apresentação da Orquestra Brasileira de Atabaques Alabê Fun Fun. Os ogãs, integrantes da orquestra, vestidos de branco e com quepes, posicionaram-se diante dos atabaques e saudaram Exu, orixá mensageiro, durante a cerimônia que ocorreu no Arte Sesc, na zona sul da cidade. Este momento espiritual e cultural antecedeu a palestra de Nei Lopes, renomado intelectual brasileiro na área de estudos afro brasileiros. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Nei Lopes, aos 83 anos, proferiu uma palestra elucidativa sobre a afrodiáspora na América Latina para uma platéia composta majoritariamente por estudantes negros de escolas públicas. Sua fala ressaltou a importância do reconhecimento das contribuições e da resistência negra na formação sociocultural e econômica do Brasil. Lopes discutiu temas como racismo estrutural, manipulação histórica e a visão eurocêntrica que predominou nos estudos e narrativas históricas brasileiras. Ele também citou obras e pensamentos de importantes figuras como Frantz Fanon e Carlos Moore, focando em como estas lideranças destacaram a necessidade de uma consciência racial elevada e crítica entre os negros.
Durante o evento, foram abordados vários períodos da história brasileira, detendo-se especialmente nas estratégias utilizadas pelas elites para perpetuar a exclusão econômica e social dos afrodescendentes, desde a época colonial até o período republicano. Lopes destacou a importância do ano de 1998, centenário da abolição da escravatura, quando houve o reconhecimento formal da igualdade de todos perante a lei com a nova Constituição Federal, que também valorizou os bens materiais e imateriais de grupos historicamente marginalizados.
O discurso de Nei Lopes culminou com uma poderosa mensagem aos jovens: entender e reconhecer a própria história e identidade é crucial para não naturalizar o racismo e para lutar contra a estrutura racista que ainda persiste na sociedade brasileira. Ele enfatizou a necessidade de cada indivíduo ser o narrador da própria história, enfatizando assim a riqueza cultural e a autonomia dos povos afrodescendentes. O vídeo da palestra está disponível no canal do Youtube do Sesc Rio de Janeiro, com tradução simultânea em libras e em inglês, garantindo acessibilidade e ampla disseminação do conteúdo discutido.
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