Damasco Renova Esperanças, Mas Enfrenta Desafios Socioeconômicos
Em uma visita histórica ao país, no final de março, o presidente da Comissão de Inquérito das Nações Unidas (ONU) sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, constatou um clima de liberdades políticas em Damasco que não era visto há décadas. A capital síria, que sofreu com 14 anos de guerra, apresenta um aspecto preservado e uma vida urbana que surpreende, mas a situação socioeconômica do país permanece crítica. Em entrevista à Agência Brasil, Pinheiro alertou sobre as consequências das sanções econômicas impostas por potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos (EUA).
Um Olhar sobre Damasco: Liberdade e Ruína
Em sua análise, Pinheiro descreveu Damasco como uma cidade que, em muitos aspectos, mantém um semblante de normalidade, com bairros que incluem arquitetura dos anos 70, repletos de árvores e cafés. “É uma vida normal,” comentou o presidente da Comissão, fazendo um paralelo com sua experiência em Lisboa após a Revolução dos Cravos (1974). Contudo, essa impressão é ofuscada pelo drama vivido nas periferias e em outras cidades da Síria, onde a devastação da guerra se reflete em prédios bombardeados e em uma população que sobrevive com menos de 2 dólares por dia.
“Cerca de 90% da população síria vive abaixo da linha da pobreza,” afirmou Pinheiro, ressaltando que, de uma população de 22 milhões, sete milhões estão refugiados em outros países e seis milhões estão deslocados internamente.
Sanções e Recuperação Econômica
Sobre as esperanças de recuperação econômica, Pinheiro indicou as sanções como um obstáculo central. Ele criticou as restrições financeiras, especialmente as impostas pelos EUA, que impossibilitam a inclusão da Síria no sistema bancário internacional, tornando difícil para os sírios abrir negócios e atrair investimentos. A situação social só piorou após a queda do regime de Bashar al-Assad, quando algumas sanções da União Europeia foram aliviadas, mas as restrições dos EUA permanecem severas.
“O mundo ocidental precisa convencer a administração americana a abolir essas sanções; caso contrário, a situação se tornará um desastre na Síria,” advertiu.
A Reação do Governo e Massacres Alauístas
Pinheiro também se manifestou sobre a resposta do novo governo sírio aos massacres que ocorreram recentemente contra civis do grupo étnico-religioso alauíta. Ele defendeu que, embora a administração tenha demorado a reagir, o massacre não foi uma questão de “vista grossa”, mas um reflexo da confusão e da erosão das Forças Armadas que existiam anteriormente.
Comitês formados pelo governo para investigar os massacres foram elogiados por Pinheiro, que acredita que podem trabalhar de forma independente. “O que importa agora é a transparência e o que esses comitês irão publicar em seus relatórios,” destacou.
O Futuro Político da Síria
Apesar da aparente abertura política, Pinheiro foi categórico ao afirmar que a Síria não deve ser vista como um caso que seguirá o modelo democrático ocidental. “Não se deve esperar que se torne uma democracia liberal e secular,” advertiu. Ele enfatizou que a transição política está em processo e que o novo governo, embora diferente do anterior, ainda enfrenta desafios significativos, como o controle do território e a presença de focos de oposição.
Em relação às eleições prometidas para daqui a cinco anos, Pinheiro reiterou a complexidade da situação atual, com milhões de deslocados e a destruição dos registros civis complicando uma possível implementação.
Relações Internacionais e Conflitos Regionais
Pinheiro também discutiu a relação da Síria com Israel, que continua a realizar ataques contra o país. Ele solicitou uma ação global para retaliar os ataques que Israel realiza sem respaldo nas normas internacionais, especialmente considerando a ocupação de territórios sírios, como as Colinas de Golã.
Com a nova administração na Síria, que apresenta um discurso mais aberto e inclusivo, a esperança por um futuro mais estável e democrático persiste, embora os desafios sejam consideráveis e as incertezas ainda dominem o cenário político.
Imagens que complementam a matéria incluem a descrição do ambiente urbano em Damasco e as condições de crianças refugiadas no Líbano, ambas capturadas por profissionais da Agência Brasil e da ONU.
Essa matéria foi publicada no site do Governo Federal do Brasil para oferecer um panorama claro e detalhado da situação atual na Síria, com foco nas análises e observações do presidente da Comissão da ONU, Paulo Sérgio Pinheiro.
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Fonte: Agencia Brasil.
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