O consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil cresceu significativamente, saltando de 10% na década de 1980 para 23% atualmente, conforme aponta uma série de artigos publicados na revista Lancet por mais de 40 cientistas liderados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Este aumento, observado também em 93 países, revela uma preocupante reestruturação global das dietas, frequentemente associada ao avanço de doenças crônicas como obesidade e diabetes tipo 2.
A pesquisa, liderada por Carlos Monteiro do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, indica que grandes corporações globais têm um papel decisivo nesta transformação alimentar, impulsionando o consumo de ultraprocessados através de estratégias agressivas de marketing e lobby político. Este fenômeno não se restringe apenas aos países de alta renda; nações com menor poder econômico também têm registrado aumentos expressivos no consumo desses produtos.
Estudos incluídos na publicação detalham como os ultraprocessados, que incluem desde biscoitos recheados e refrigerantes até macarrão instantâneo e iogurtes saborizados, são formulados para serem extremamente palatáveis e duráveis, mas oferecem baixa qualidade nutricional. A partir da revisão sistemática de 104 estudos, descobriu-se que o consumo elevado desses alimentos está ligado a uma maior incidência de várias doenças crônicas.
Os pesquisadores também propõem medidas para reduzir a prevalência desses produtos na dieta da população, incluindo a sinalização clara de aditivos e excessos nutricionais nas embalagens, além da proibição em instituições públicas como escolas e hospitais, seguindo exemplos de iniciativas já em curso no Brasil, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar que prioriza alimentos frescos e minimamente processados.
A série de artigos destaca a importância de políticas públicas urgentes para reverter essa tendência, promovendo uma alimentação mais saudável e integral. Com vendas globais de US$ 1,9 trilhão, a indústria de ultraprocessados continua a expandir sua influência, tornando essencial uma ação coordenada para preservar a saúde pública em escala global.
Ultraprocessados já são quase um quarto da alimentação dos brasileiros
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