Em uma ação que está sendo interpretada como uma tentativa de asfixiar economicamente Cuba, o Departamento de Estado dos EUA cancelou vistos de funcionários brasileiros, africanos, granadino e cubanos, além de seus familiares, todos ligados a programas de cooperação médica com Cuba. Este movimento, realizado na mesma data, também atingiu funcionários envolvidos no programa Mais Médicos no Brasil, intensificando as tensões entre os governos.
Segundo a Casa Branca, o objetivo é bloquear uma das principais fontes de receita de Cuba, sua exportação de serviços médicos. A decisão, qualificada como “uma manobra de provocação” pelo analista de geopolítica Hugo Albuquerque, também pode sinalizar uma tentativa de mudança governamental no Brasil, conforme afirmou durante entrevista. A política, que havia sido amplamente aceita durante o governo de Dilma Rousseff no Brasil, reduzia o isolamento de Cuba, mas agora parece estar sob grave ameaça.
De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, agora sob a liderança de Marco Rubio, de origem cubana, esta ação visa interromper o que eles classificam como um enriquecimento do “corrupto regime cubano” às custas de privar o povo de Cuba de essenciais cuidados médicos. O governo dos EUA afirma que continuará a tomar medidas necessárias para cessar o que eles consideram “trabalho forçado” nesses programas de cooperação.
Em resposta, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel defendeu a integridade e a legitimidade desses programas internacionais de cooperação médica, que, segundo ele, “têm sido uma fonte honesta de renda, com muitas das missões sendo completamente gratuitas e trazendo benefícios mútuos”. Díaz-Canel condenou as ações estadunidenses e reforçou o compromisso de Cuba com a assistência médica global.
O cerco não é uma novidade. Desde fevereiro deste ano, os EUA vêm ameaçando países que participam de acordos médicos com Cuba. Isso impacta diretamente a ilha caribenha que, por mais de seis décadas, tem enviado médicos ao redor do mundo — desde Portugal à Ucrânia, passando por nações africanas e caribenhas. A cooperação médica internacional de Cuba começou na década de 1960 e tem sido uma parte vital de sua diplomacia e fonte econômica.
Líderes de países caribenhos, como a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e o primeiro-ministro Keith Rowley de Trinidade e Tobago, também se pronunciaram fortemente contra as pressões dos EUA, rejeitando qualquer sugestão de que seus acordos médicos constituam ‘tráfico de pessoas’ ou ‘trabalho forçado’. Ambos defendem a soberania e a importância desses programas, destacando como essenciais para o bem-estar de seus cidadãos, sobretudo durante a crise da Covid-19.
No Brasil, a participação cubana no Mais Médicos teve início em 2013, sob a administração da OPAS, engajando até 11.000 médicos cubanos em seu auge. O programa é altamente valorizado por ter ampliado significativamente a cobertura da atenção básica de saúde, beneficiando milhões de brasileiros desde sua criação.
A tensão continua, com a administração Trump usando esta e outras medidas para pressionar tanto Cuba quanto seus aliados internacionais, em um período marcado por relações diplomáticas cada vez mais desafiadoras.
[Crédito das imagens: José Cruz/Agência Brasil; Agência EFE/Alejandro Ernesto – direitos reservados]
EUA tentam asfixiar Cuba via bloqueio da exportação de serviço médico
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