Guerra comercial dos EUA sob a gestão Trump pode reindustrializar o país? Especialistas opinam
As recentes tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump, que afetam todos os parceiros comerciais globais, têm como objetivo prometido a reindustrialização do país. No entanto, especialistas em economia política e desenvolvimento econômico ouvidos pela Agência Brasil questionam a viabilidade de tal promessa.
Professor Edemilson Paraná, da LUT University, Finlândia, destaca que a sociedade americana carece da unidade política e ideológica necessária, bem como de coordenação estatal, fatores essenciais para um processo de reindustrialização eficaz. Paraná critica a falta de um programa consistente por parte do governo Trump que apoie investimentos em infraestrutura e políticas industriais coordenadas.
A desindustrialização nos EUA, segundo Paraná, é um fenômeno que tem suas raízes nas políticas neoliberais iniciadas na década de 1980, sob a presidência de Ronald Reagan. O quadro foi agravado pela globalização e por uma maior financeirização da economia, políticas que foram intensificadas pelos presidentes subsequentes.
Dados da Casa Branca indicam que entre 2001 e 2023, a participação dos EUA na produção industrial global caiu de 28,4% para 17,4%.
Por outro lado, Pedro Paulo Zaluth Bastos, professor associado de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ressalta a imprevisibilidade das tarifas como um desincentivo para decisões empresariais de longo prazo. Além disso, ele alerta para o potencial efeito inflacionário de curto prazo das tarifas, que poderia enfraquecer o apoio político a Trump, favorecendo um retorno dos democratas ao poder.
Ainda que haja alguma reindustrialização em setores intensivos em capital, como automotivo e alumínio, segmentos como o de semicondutores enfrentarão dificuldades, dada a falta de mão de obra especializada nos Estados Unidos.
Enquanto esperança para impulsionar a reindustrialização reside em reduzir custos de energia e impostos para empresas, Pedro Paulo Bastos da Unicamp, alerta que não há garantias de que isso resultará em investimentos substanciais, especialmente em períodos de recessão.
Finalmente, Paraná aponta que as tarifas podem ser uma estratégia para forçar negociações país a país, explorando a vantagem que os EUA ainda possuem como destino de mercado global desejável e a força do dólar, mas ele também ressalta o alto custo dessa abordagem na arena internacional, questionando a eficácia de tal política para reindustrializar efetivamente os Estados Unidos.
Entenda: tarifaço de Trump é capaz de reindustrializar Estados Unidos?
Economia